Uma caminhada pelas areias brancas e por uma pequena mata arbórea dentro do Parque das Dunas deixou impressionados os representantes da empresa Walm Engenharia e Tecnologia Ambiental Ltda, contratada pela Infraero para elaborar Estudo de Impacto Ambiental e do Relatório de Impacto Ambiental (EIA-RIMA) para verificar a possibilidade de construção de uma nova pista para o Aeroporto Internacional de Salvador dentro da área de preservação.
Participaram da visita técnica à unidade de preservação no último dia 7 de abril, quatro técnicos da Walm: o geólogo Walter Sérgio de Faria, a bióloga Sueli Harumi Kakinami, a arquiteta Laura Rocha de Castro e o engenheiro Bruno Pontes Costanzo Ao final, todos se confessaram encantados com as belezas e riquezas do ecossistema do parque.
“Fiquei surpreso com tanta diversidade e a complexidade ambiental do Parque das Dunas”, explicou o geólogo Walter Faria. Já o engenheiro Bruno Costanzo disse que a empresa pretende ser totalmente isenta e dar um parecer eminentemente técnico sobre o EIA-RIMA. “Se os estudos apontarem a incompatibilidade da pista com a preservação ambiental, vamos indicar. Especialmente no que diz respeito à questão dos recursos hídricos, que são especialmente sensíveis”, pontuou.
Eles foram acompanhados na visita pelo diretor do Parque Jorge Santana e pelo jornalista Augusto Queiroz, coordenador de Comunicação. “Vamos receber o pessoal da Walm com a maior boa vontade, inclusive disponibilizando para os mesmo os nossos inúmeros estudos científicos sobre o ecossistema do parque”, explicou Santana.
Ameaça
A Walm Engenharia foi contratada pela Infraero para elaborar o EIA-RIMA no dia 1º de fevereiro último. Os serviços custarão R$1,2 milhão do dinheiro público e a empresa terá 395 dias (ou seja, até 1º de abril de 2012) para desenvolver as avaliações que determinarão a viabilidade ou não da construção da segunda pista do aeroporto, que deverá ter 2,4 mil metros de comprimento por 45 metros de largura.
Como é sabido, ambientalistas, pesquisadores, técnicos e a população em geral estão preocupados com a possibilidade de construção dessa nova pista. O temor é que, caso aprovada, a obra destrua definitivamente a última área ainda preservada do ecossistema de lagoas, dunas e restingas da cidade: o Parque das Dunas.
A mais nova investida da Infraero contra o meio ambiente deixa evidente que, apesar de integrar um Parque Municipal, criado em 2008 por decreto da Prefeitura de Salvador, a unidade de preservação ainda não está de todo livre da ameaça de projetos desenvolvimentistas ultrapassados. Que poderão literalmente passar por cima do parque e devastar o meio ambiente com apoio da máquina econômica e política do governo federal, num evidente prejuízo para a qualidade de vida da população e um acinte às futuras gerações, que só poderão conhecer este frágil ecossistema através de fotos e filmes.
Os administradores e simpatizantes do Parque das Dunas, bem como a comunidade local, prometem reagir a qualquer tentativa de agressão ou diminuição da área da unidade de conservação, e prometem realizar manifestações visando sensibilizar toda a sociedade baiana para a defesa deste último patrimônio natural da cidade.
“Totalmente absurdo este contrato. Num país verdadeiramente sério jamais se gastaria R$1,2 milhão do dinheiro do contribuinte para verificar a possibilidade de se construir uma pista de aeroporto dentro de uma área de preservação ambiental. É como contratar um estudo para ver a possibilidade de se implantar um bordel numa escola primária. Não tem sentido. Porque uma coisa automaticamente exclui a outra. Não dá liga! Pista de avião não combina com preservação. Será que os “burrocratas” de Brasília não percebem o absurdo?”, questiona o jornalista e ambientalista Augusto Queiroz, consultor de Comunicação do Parque das Dunas.
Segundo ele, “ficam com a palavra agora o Ministério Público, o TCU, a classe política e os homens e mulheres de bem deste país, que certamente saberão reagir a mais esta iniqüidade”.
Por: Augusto Queirós