Ameivula abaetensis (nome popular: lagartixa-de-Abaeté ou lagartinho-de-Abaeté) é uma espécie de lagarto endêmica dos cordões litorâneos do norte da Bahia ao sul de Sergipe. Esta espécie era desconhecida da ciência até o ano de 2002, quando foi descoberta pelos biólogos Eduardo Dias (hoje docente da Universidade Federal de Sergipe), Frederico Rocha e Davor Vrcibradic (docentes da Universidade do Estado do Rio de Janeiro) na APA das Lagoas e Dunas do Abaeté. Sua distribuição mais ao sul provavelmente está limitada à restinga da APA das Lagoas e Dunas do Abaeté, nome o qual esta espécie de lagarto recebe como homenagem.
O lagartinho-de-Abaeté vive, exclusivamente, nos ecossistemas de restingas. As restingas são ecossistemas formados por cordões arenosos que se desenvolvem paralelamente ao litoral. Estes ecossistemas têm sido historicamente substituídos por ocupações humanas desde a descoberta do Brasil, sendo, consequentemente, um dos ecossistemas mais ameaçados no nosso país. Ainda, outras pressões causadas pela ação humana incluem: remoção do substrato arenoso para construção, destruição da vegetação por ação de veículos, remoção de espécies vegetais nativas, presença de animais exóticos (como gado, cães, gatos e pombas) que acabam por predar as espécies nativas, lixo, desmatamento, entre outros. Devido à perda do habitat, o lagartinho-de-Abaeté se encontra listada no Livro Vermelho de Espécies Ameaçadas de Extinção do Ministério do Meio Ambiente, sob o status de “ameaçada de extinção”. Uma vez que foi descoberto apenas recentemente, sua importância ecológica e relações com outras espécies são pouco conhecidas, existindo apenas algumas publicações científicas, a exemplo de Dias e colaboradores (2002), Dias & Rocha (2004), Dias & Rocha (2007), Domingos (2008), Santa-Rosa e colaboradores (2012). O lagartinho-de-Abaeté tem preferência por locais (microhabitats) onde a serrapilheira é abundante. Abriga-se em tocas que escava na areia, junto à vegetação. Possui atividade diurna, saindo do abrigo por volta das 7h30 da manhã. A espécie tem o máximo de atividade entre 10h e 14h, quando, então, alimenta-se e reproduz. Após o período de atividade retorna à toca. É heliotérmico, cuja temperatura corpórea média é de cerca de 37º C nos meses de verão. Não possui dimorfismo sexual (macho e fêmeas são semelhantes). Tem reprodução contínua ao longo do ano, com ninhada de 1 a 2 ovos. Segundo Dias & Rocha (2007), a dieta de Ameivula abaetensis inclui pequenos artrópodes (como besouros, baratas, cupins e formigas), muitos dos quais são pragas urbanas, o que torna o lagarto um importante controlador “natural” destas outras espécies. Além disso, o lagartinho-de-Abaeté também se alimenta de pequenos frutos, como o do Murici (Byrsonima microphylla). Em uma das publicações mais relevantes para o entendimento da biologia de Ameivula abaetensis, Santa-Rosa e colaboradores (2012), citam que “[em] observações de campo, pôde-se constatar o transporte dos frutos [de Murici carregados pelo lagartinho-de-Abaeté] para locais distantes da planta-mãe”. Neste caso, é importante salientar que “o sucesso do processo reprodutivo das plantas depende muito dessa relação biológica, pois para germinar, a semente deve chegar a um local propício, longe da planta-mãe, para evitar a competição”. Consequentemente, o papel do lagartinho-de-Abaeté como dispersor de sementes não pode ser descartado, o que colocaria este lagarto no mesmo patamar de primatas e aves. “Evidências [como estas] indicam que lagartos podem ser importantes mutualistas na dispersão de sementes em muitas regiões tropicais e temperadas”. Uma vez que as ações humanas venham a alterar esta sutil relação mutualística animal-planta, é possivelmente que ocorra extinção local do lagarto, entre outros problemas para o ecossistema, restringindo ainda mais a área de ocorrência desta espécie. Ainda, é sabido que a espécie citada é de extrema sensibilidade aos efeitos de alteração no ambiente, os quais podem ser ampliados, além dos já existentes, como resultado de grandes construções. O texto foi redigido e cedido por Igor Rios do Rosário, biólogo mestrando do Programa de Pós-Graduação em Diversidade Animal Universidade Federal da Bahia e antigo parceiro do Parque das Dunas. |