O biólogo Igor Rios do Rosário, estudante de mestrado em Diversidade Animal da UFBA, desenvolve um estudo sobre o Lagarto Abaentense, descoberto no Parque das Dunas, em 2002. O réptil serve como um controlador de pragas e ainda como um distribuidor de sementes. Na manhã desta quarta-feira, o pesquisador conversou com a Assessora de Imprensa do Parque das Dunas, Mariana Sena, e alertou que o réptil está ameaçado de extinção. A entrevista segue na íntegra.
Parque das Dunas- O que você pode destacar na fauna do Parque das Dunas?
Igor Rosário – Olha só, o ecossistema está em bom estado de preservação e ainda existe uma riqueza considerável de espécies quando comparamos com outras localidades do Estado da Bahia. Mais especificamente na área do conhecimento em que trabalho – a Herpetologia, que é o estudo dos répteis e anfíbios – eu posso citar duas espécies endêmicas de lagartos que ocorrem aqui. Isto é algo incomum para este tipo de ecossistema, uma vez que as restingas são formações geologicamente recentes e os grupos de répteis existentes neste ambiente tiveram pouco tempo para estruturação e diferenciação ao longo da história evolutiva. As espécies endêmicas que ocorrem aqui são Cnemidophorus abaetensis, que eu estudo o efeito de alguns fatores físicos do ambiente na sua distribuição, e Tropidurus hygomi, outra espécie da qual a ciência não tem muitos dados.
Parque das Dunas- Ele está ameaçado de extinção?
Igor Rosário- Sim. Isto por conta dos poucos remanescentes de restinga que temos. O habitat deste réptil é neste tipo de vegetação, ela estando escassa, ele está ameaçado de extinção. Nas regiões nordeste e sudeste do Brasil, as restingas se encontram reduzidas a fragmentos florestais isolados, tem sofrido uma constante pressão antrópica resultante da intensa ocupação humana e conseqüente alteração da paisagem original, fundamental para o refúgio da maioria das espécies de lagartos e outros organismos que compõem a fauna característica deste ecossistema
Parque das Dunas- Quando e por quem ele foi descoberto?
Igor Rosário- Esta espécie, Cnemidophorus abaetensis, foi descrita apenas em 2002! Bem recente! Por três pesquisadores Eduardo Dias (professor da Universidade Federal de Sergipe), Frederico Rocha e Davor Vrcibradic, sendo estes últimos da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro.
Parque das Dunas- Qual a origem deste lagarto? Parece um pouco com uma iguana não, é?
Igor Rosário – Não exatamente. Eles possuem uma história evolutiva em comum, mas possuem características bem diferentes na estrutura corpórea e no comportamento destas duas espécies. Algo que pode ser facilmente identificado é a coloração. Enquanto o Cnemidophorus abaetensis tem uma coloração que se destaca no ambiente, as iguanas normalmente possuem uma coloração que chamamos de críptica, que se camufla no ambiente. Dá para você perceber isso dando uma volta pelo parque. Tem iguanas aqui.
Parque das Dunas- Qual a importância para a população da existência deste lagarto?
Igor Rosário – Lagartos muitas vezes são controladores de pragas. Cnemidophorus abaetensis se alimenta basicamente de cupins, formigas e pequenos besouros. Pode ser um bom indicativo para a população entender porque às vezes as cidades estão lotadas de pragas. Mas existem outras coisas que podem passar despercebidas. Por exemplo, o lagartinho consegue carregar as sementes de uma espécie de murici (Byrsonima microphylla) para longe da planta que gerou esta semente. Agora, veja as implicações disto. Ao carregar a semente para longe desta “planta-mãe”, ele evita que a “planta-mãe” e a nova planta em crescimento fiquem competindo por nutrientes do solo e pela luz do sol. Isto é importante para que a planta em desenvolvimento prospere e para que aquela população de plantas se disperse para outros locais. O murici é um arbusto que, como outros da restinga, é fixador de dunas. Quando não há vegetação, estas dunas se deslocam por ação do vento, podendo invadir a pista ou as casas dos moradores das redondezas! Direta ou indiretamente, estes lagartinhos são muito importantes para a qualidade de vida das pessoas.
Parque das Dunas- Você sempre está no Parque das Dunas e eu percebo que nem sempre é por conta do seu mestrado. O parque então não é só trabalho pra você também é lazer, certo?
Igor Rosário- O Parque das Dunas é trabalho e lazer, inclusive já trouxe até amigos fotógrafos, engenheiros e outros biólogos. Eles ficaram encantados com o local, mas quem não se encanta? Aqui é um local muito rico e precisa permanecer conservado.
Igor Rios do Rosário é estudante do Mestrado em Diversidade Animal da UFBA e faz parte do grupo de pesquisa do Laboratório de Ecologia e Biologia de Vertebrados (LABEV) da Universidade Federal de Sergipe.