O professor de Direito da Universidade Federal da Bahia (Ufba), Heron Santana, revelou ao Bahia 247 que planeja incluir a visitação ao Parque das Dunas na grade acadêmica do curso de pós-graduação em Direito Ambiental da universidade. A afirmação foi feita durante recente visita à área de proteção ambiental localizada na Praia do Flamengo, nas proximidades do aeroporto de Salvador.
Ao lado do promotor Marcelo Pires, Santana levou ao parque seus alunos da pós-graduação da Ufba no último dia 16 de julho. O grupo, que fez uma trilha de cerca de três horas, ficou impressionado com a beleza da fauna e da flora que não imaginavam existir nas dunas da Praia do Flamengo. “Eu nunca fiz uma trilha onde não tivesse nenhuma sujeira. Sempre há plástico, tampas de garrafa e aqui não tem nada disso”, disse Heron, que mostrou favorável à preservação da Área de Preservação Ambiental (APA) de Lagoas e Dunas do Abaeté, onde o parque está situado.
Jorge Santana, presidente da Universidade Livre das Dunas (Unidunas), ONG que administra o Parque, explicou que a Educação Ambiental sempre foi uma prioridade. “Partimos do princípio de que é preciso conhecer para preservar. A ideia do Parque começou com um laboratório natural de Biologia e, à medida que vamos conhecendo mais o ecossistema, a vontade de preservar só aumenta”, assegura o ambientalista.
‘Um monte de vida’
Durante a caminhada, os estudantes puderam conhecer diversos tipos de orquídeas, lagartos, vegetação de restinga e a lagoa da Vitória, maior da APA do Abaeté. “Agora vocês entenderam que aqui não é um monte de duna, mas um monte de vida”, concluiu Jorge Santana. O representante da sala e promotor Marcelo Pires confirmou: “É realmente um manancial que deve ser conservado. Saímos da sala de aula e aprendemos na prática”, disse.
Entre uma mordida na melancia e um gole de água de coco, os estudantes trocaram experiências sobre a impressão que passaram a ter do Parque das Dunas. “Não imaginava a quantidade de espécies novas que existe aqui. É preciso que esta fauna e flora sejam protegidas”, ressaltou o advogado Sergio Nogueira, referindo-se à abaetense, lagarto endêmico da APA do Abaeté que esta sendo estudado por biólogos para ajudar na cura do câncer de pele.
Cerca de 30 mil pessoas de todo o mundo já visitaram ou fizeram estudos no Parque das Dunas, que tem uma área total de 5 milhões de metros quadrados. Lá, existem mais de 85 espécies de aves, sete lagoas perenes e oito intermitentes, além de uma mata fechada com árvores de até 20 metros.
Aeroporto
Durante a visita, um assunto não podia deixar de ser comentado: o Projeto da Infraero de Ampliação do Aeroporto Internacional de Salvador. A construção de uma pista de carga pretende ser construída na APA, desmatando todo o ecossistema de dunas, lagoas e restingas. Jorge Santana, presidente da Unidunas, garantiu não se opor à ampliação. “Não somos contrários à nova pista que eles pretendem fazer, mas não aprovamos o atual projeto, que degradaria muito o ecossistema. Evitando a construção da pista cerca de 60 metros, já deixaríamos de aterrar duas lagoas”, esclareceu o ambientalista.
O assunto está sendo analisado pelo promotor Marcelo Pires que, na sua tese de doutorado, estuda a viabilidade jurídica das obras de ampliação do Aeroporto de Salvador. “Talvez a ampliação da estrutura aeroportuária da forma que está prevista não seja viável já que poderia gerar uma degradação ambiental irreversível”, comenta o promotor.
Para que haja a construção da nova pista, o projeto teria que ser aprovado pelo Estudo e Relatório de Impacto Ambiental, que será concluído em Abril de 2012. “É um ambiente indiscutivelmente muito rico. Precisamos pensar numa solução já que também é muito importante para a sociedade esta nova pista de carga”, resumiu o biólogo responsável pelo estudo, Bruno Constanzo. A Infraero e o Parque das Dunas mantêm uma relação amigável e ambos têm colaborado com para o desenvolvimento do estudo.
Por Mariana Sena