Defensores das dunas da capital baiana estão preocupados com o rumo que elas têm sido submetidas. Posicionadas naturalmente para minimizar os impactos da salinidade, as dunas têm a função ainda de filtrar o salitre que vem do mar para oferecer um ar mais saudável, além de ajudar a preservar bens como eletrodomésticos, carros, entre outros. De acordo com o Parque das Dunas de Salvador (Unidunas), a cidade possui seis milhões de quilômetros quadrados de dunas que vão de Itapuã até a Praia do Flamengo.
Porém, algumas ações do homem têm prejudicado esses areais, seja com a retirada de sacos de areias utilizadas erroneamente para construção, seja por grupos de até 1.500 pessoas que sobem as dunas para realizar cultos evangélicos. No primeiro caso, além de retirar o material do lugar, quem faz esse tipo de coisa ainda põe em risco a vida de quem vai morar nessas construções “porque essa areia, por absorver a salinidade proveniente do mar, é cheia de sal, podendo corroer as estruturas de ferro do imóvel e provocar um acidente”, explica o presidente da Unidunas, Jorge Santana.
O segundo caso também preocupa os protetores do meio ambiente. Muitos encontros de membro de diversas igrejas acontecem no topo das dunas da Av. Dorival Caymmi e no bairro do Costa Azul. Ambas são Área de Proteção Permanente (APP), protegidas por lei federal, através do Código Florestal. Isso quer dizer que ninguém pode explorar o local sem orientação. “É preciso ter cuidado porque o sobe e desce de muita gente movimenta cada vez mais as areias, principalmente quando tiram as restingas, plantas que seguram as dunas”, reforça o presidente.
Para Jorge Santana, uma das soluções é realizar uma ação educacional com os pastores das igrejas que fazem esse tipo de atividade. “Podemos tratar junto com a prefeitura de forma a ordenar e centralizar os locais para que eles continuem realizando as orações, só que com condições e até mesmo com uma melhor estrutura”, sugere. O ambientalista alerta ainda para os riscos de animais e plantas típicas dessa vegetação que podem machucar alguém como vespas sem asa e cobra cascavel. “As dunas são um monte de vida que precisam ser protegidas. Se elas estão ali é porque têm importante função na vida de todos nós”, completa.
O vereador Marcell Moraes é um dos defensores que pedem solução para as dunas de Salvador. Ele afirma que “a invasão das dunas também é um problema ambiental, que pode condenar o espaço à descaracterização, alteração do regime de temperaturas, ventos e também prejudicar a biodiversidade”. Em contato com a assessoria de imprensa da prefeitura de Salvador, a Tribuna foi informada que a Superintendência de Conservação e Obras Públicas do Salvador (Sucop) fará a retirada de areia da pista.
Denúncias
O descaso com as dunas de Salvador tem despertado o interesse da comunidade. No bairro do Costa Azul, moradores estão preocupados com o acesso de pessoas ao local e com a falta de cercas. “Já entrei em contato com vários órgãos e instituições ambientais para retirar a areia que desceu para a pista. Por causa disso, muitos acidentes de trânsito têm acontecido por aqui. Outra coisa é que muita gente está destruindo as dunas, mas algumas delas nem têm conhecimento disso”, conta uma moradora que preferiu não se identificar. Ela disse ainda que é comum ter caçambas ou carros saindo carregados de sacos de areia.
Mas o que tem incomodado muitos moradores é o barulho a quantidade de pessoas que sobem às dunas. “Não é nada contra a religião, mas frequentemente o pessoal aqui têm dificuldade até para dormir por causa do barulho. Chegam ônibus lotados de fiéis, carros ficam estacionados na porta dos condomínios e nas calçadas. Está ficando uma situação muito desagradável, relatou Ieda Souza, que mora na região há cerca de 30 anos.
Segundo Alexandre Augusto, da Assembleia de Deus, várias igrejas se reúnem no Monte Sagrado (como eles chamam) para orar, “mas não queremos incomodar ninguém, apenas louvar a Deus” disse.
Replantio de restingas
Para as dunas do bairro do Costa Azul voltar ao normal, será necessário o replantio de restingas, que são encontradas somente no horto do Parque das Dunas. “Podemos fazer uma doação. Além disso, vamos fazer uma visita técnica com especialistas e com agentes da prefeitura para contribuir com o reflorestamento do local”, destaca Jorge Santana. Ele revelou também que Salvador possui o maior parque urbano do ecossistema de dunas, lagoas e restingas no país.
A luta pela proteção da única extensão de dunas de Salvador fez com que o Parque fosse reconhecido pela Unesco, em dezembro de 2013, como Posto Avançado da Reserva da Biosfera da Mata Atlântica. O título reforça o trabalho que vem sendo desenvolvido há 18 anos pela instituição, que busca orientar a sociedade para uma melhor conscientização da função das dunas. “As dunas são um monte de vidas. Por isso, precisamos preservá-la também para as futuras gerações”, conclui o presidente da instituição.
Por Maira Cortes
Fonte: http://www.tribunadabahia.com.br/2014/01/08/dunas-de-salvador-estao-desprotegidas